Você Sabe o Que é Síndrome do 6º Ano ?

 Você já ouviu falar da Síndrome do 6o  Ano ? Talvez você não saiba o que é, porém tenho certeza que  se você é Professor do Ensino Fundamental II,  vivencia todos os anos vários problemas relacionados com a Síndrome do 6o Ano.

Os Professores do Fundamental II queixam-se de que os alunos do  6º Ano são “ avoados”, “ negligentes”, apresentam muitas dificuldades, gostam apenas de “brincar” e são muito “ dependentes” e até “muito indisciplinados”. Esse conjunto de situações que ocorrem, especificamente na mudança de um segmento para outro, e neste caso do 5º. Para o 6º Ano, é conhecido como “Síndrome do 6o Ano”.

Agora vamos aos fatos: Os alunos que estavam no 5o. ano, tinham apenas 1 ou 2 professores, e a rotina assegurava um maior controle por parte do Professor.
Já no 6o ano, esta rotina muda, pois a estrutura das aulas requer que a cada 50 minutos o Professor saia da aula e entre outro professor para a próxima aula. Então eles sentem-se muito soltos, e o que fazem em uma aula o outro professor não fica sabendo e como são vários professores,  cada um realiza um ” gerenciamento da sala de aula” de um jeito diferente.

Desta forma, o aluno vê nessa  “desorganização” e nessa falta de unidade, uma brecha enorme para fazer o que quer. Afinal nas séries iniciais a Professora tende a ter uma abordagem mais maternal, enquanto que no Fundamental II isso não ocorre, e esse distanciamento é visto pelo aluno como um estímulo à impunidade já que o mesmo sente-se protegido pelo anonimato.

Mas será que a Síndrome do 6o Ano ocorre apenas por conta desse distanciamento por parte do Professor? Abaixo elencamos mais algumas circunstâncias que também contribuem para que a síndrome do 6o ano seja algo recorrente, são elas:

– Descontinuidade do Processo de Ensino

Quer seja do Ensino Infantil ao 1º. Ano, do 9º. Ano ao 1º. Ano do Ensino Médio ou do 5º. Ao 6º Ano, o fato é que os Professores não estão atentos em realizar a preparação do aluno para que ocorra uma transição tranquila entre um segmento e outro.

Então ocorre que o aluno do 1º. Ano e o do 6º Ano estranham demais os novos procedimentos e rotinas, demoram a se inteirarem desta nova realidade e como consequência o seu aprendizado fica comprometido.

Isso sem falar, que é comum os Professores que recebem esses alunos alegarem que os mesmos estão chegando sem nenhuma base de aprendizado, ou com uma base deficiente.

Em tese um segmento deveria ser a continuidade do anterior e estarem alinhavados pelos conteúdos e sequências didáticas, porém não é o que ocorre de fato.

Neste caso a  Síndrome do 6o ano ocorre porque os Professores aulistas, não investem em dedicar tempo para  auxiliar os alunos a incorporar a nova rotina ajudando-os desta forma nesta transição.

Os Professores também acabam contribuindo para a Síndrome do 6o Ano pois cada um tem uma metodologia de trabalho diferente da que aquele aluno do 5º. Ano estava habituado. Estas diferentes metodologias comprometem a compreensão dos conteúdos, além do mais como cada professor está mais preocupado com sua própria disciplina acaba elegendo critérios de avaliação e práticas didáticas desconectadas o que  proporciona um sentimento de confusão no aluno.

No 5º. Ano o aluno tinha apenas um Professor, que oferecia procedimentos claros de avaliação, metodologia e certa quantidade de tarefas e trabalhos. Já no 6º Ano o número de professores aumenta e a carga de atividades e trabalhos para entregar também.

– Mais Responsabilidade

Uma criança que não era tão responsável assim com os estudos em novembro, vai tornar-se, milagrosamente, responsável em fevereiro só porque entrou no 6º Ano? Claro que não !

Mas, infelizmente, a fala dos Pais e Professores é: “ no 6º Ano você vai ter de ser mais responsável”, “ vai ter de estudar mais”, “ agora começa o estudo sério”. Ora, no infantil e fundamental I não precisava ser responsável? Não precisava dedicação?

A responsabilidade é preciso ser desenvolvida desde sempre, começa lá no infantil a cobrança, o nível de exigência, dedicação nas tarefas etc, porém o que ocorre é que de uma forma mais “ maternal” o Professor conduz esse segmento e quando o aluno chega no fundamental II, é cobrado de um volume de responsabilidades e tarefas  o qual não estava acostumado.

Alunos do 6º. Ano ainda são muito imaturos e manifestam uma grande predisposição ao lúdico, então quando encontram tantas “ facilidades” e “ oportunidades” na dinâmica e organização da rotina do fundamental II eles sentem-se no paraíso das possibilidades.

Tantas oportunidades nessa organização escolar favorece e reforça a Síndrome do 6o Ano e o aparecimento da indisciplina.

– Mudanças psicológicas e físicas

Alunos do 6º Ano são imaturos nas suas atitudes e comportamentos. Estão no que Piaget denomina de estágio operatório-concreto, ou seja, ainda não estão suficientemente maduros para enfrentar as demandas desta nova fase escolar com tantas disciplinas que exigem e envolvem maior abstração e subjetividade, enquanto que até o 5º. Ano a utilização de materiais concretos e situações mais vivenciais marcavam este período.

Além do mais as mudanças físicas também são marcantes na entrada da adolescência. Agora o interesse é por atividades em grupos, o interesse no sexo oposto, a preocupação com a aparência. Todo esse turbilhão de sentimentos e situações novas acabam contribuindo para o aparecimento de indisciplina e tudo isso potencializa o quadro já caótico da Síndrome do 6o Ano.

– Expectativas x Realidade

Os alunos de 5º. Ano criam altas expectativas quando ingressam no 6º Ano, acreditam que agora deixarão de ser  tratados como “ crianças” pois  terão mais autonomia e independência.

É nesta fase que muitas famílias permitem que o aluno vá sozinho à escola, é nesta fase também que, infelizmente, os Pais param de olhar a Agenda Escolar e a perguntar sobre o dia a dia dos filhos na escola. Então as crianças não se sentem mais “ vigiadas” como antes e então começam a vislumbrar as oportunidades de não precisarem levar tão a sério os estudos.

Porém com a liberdade vem também a responsabilidade de: dar conta de várias disciplinas e professores, organizarem os estudos para melhor aproveitamento, realizar vários trabalhos para entrega, muitas vezes na mesma semana, realizar até mais de uma prova por dia. Afinal os Professores não querem saber se outro Professor já marcou prova no mesmo dia que ele.

Então, se por um lado as expectativas mais fantasiosas se realizam para alguns, para muitos também se apresenta a dura realidade: mais trabalho, mais tarefas, mais responsabilidades. Todo esse conjunto faz com que os alunos detestem o 6º Ano.

Como minimizar ou até coibir a Síndrome do 6o Ano? Aqui vão algumas sugestões:

– ROTINAS, REGRAS, CONSEQUENCIAS: Todos os professores do fundamental II reunirem-se para definir uma rotina padrão quanto a tarefas, lição de casa, entrega de trabalhos, gerenciamento do tempo da aula, provas, procedimento para a quebra de regras, estabelecimento de consequências, pacto da sala de aula, etc.

– PRÁTICAS DE ENSINO/METODOLOGIA: levantamento das práticas e metodologias em uso no fundamental II e as possíveis adequações para os alunos do 6º Ano.

– TRANSIÇÃO EM CURSO: Intercalar o uso de metodologias e práticas de ensino mais lúdicas e utilização de material concreto, de forma a possibilitar que o aluno vá se inteirando desse novo segmento de modo mais suave e tranquilo.

– TRANSIÇÃO PLANEJADA: Oriente os Professores do 5º.ano, por meio de reuniões, a respeito da rotina do fundamental II e sugira que novos procedimentos sejam incorporados no 5º. Ano, de modo que os alunos já comecem a se inteirar de forma gradativa com uma nova sistemática de rotina que os espera no ano seguinte.

Outra medida é realizar um dia na série, onde os alunos do 5º. Ano vivenciariam um dia no 6º Ano. Este evento geram expectativas positivas nos alunos, promove uma oportunidade deles esclarecerem possíveis dúvidas e inquietações e também favorece que os Professores do Fundamental II possam realizar uma avaliação diagnóstica para levantar o nível de aprendizado desses alunos, podendo assim propor para a Professora do 5º. Ano algumas intervenções no sentido de auxiliar os alunos que não demonstraram bom desempenho.

Agora você está  melhor preparada e devidamente instrumentalizada para minimizar os problemas decorrentes da Síndrome do 6o Ano, e poderá ter um ano letivo mais tranquilo, pelo menos no que refere-se a esta turminha.

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Abraços,

Roseli Brito

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REFERENCIAS

FERREIRA, Berta Weil. A teoria de Jean Piaget. In: ______O cotidiano do adolescente. Petrópolis: Vozes, 1995. p.116-123

NOVAES, Maria Helena. Psicologia escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 1970. p. 163 – 178

PIAGET, Jean. A epistemologia genética. Rio de Janeiro: Vozes, 1972. ____________Problemas de psicologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 211-215

Roseli Brito: Pedagoga, Psicopedagoga, Neuroeducadora, Educadora Financeira