Alunos das escolas públicas latino-americanas perdem um dia de instrução por semana

Novo relatório examina em detalhe o importante papel dos professores na melhoria do aprendizado dos estudantes

LIMA, 24 de julho de 2014 — A cada semana, os estudantes das escolas públicas na América Latina e no Caribe são privados do equivalente a um dia de aula, segundo um novo relatório do Banco Mundial. A razão disso é o baixo nível de eficiência dos professores.

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Com base em uma pesquisa sem precedentes envolvendo a observação de mais de 15 mil salas de aula de três mil escolas primárias e secundárias em sete países latino-americanos, o relatório Great Teachers: How to Raise Student Learning in Latin America and the Caribbean [Grandes professores: como melhorar o aprendizado dos estudantes na América Latina e no Caribe] descreve como o absenteísmo dos docentes, a sua má formação, o baixo nível de competência e de remuneração, assim como uma administração escolar deficiente, fazem com que os estudantes percam oportunidades. O estudo é uma importante contribuição ao crescente conjunto de pesquisas sobre como elevar a qualidade do ensino e os resultados da aprendizagem.

O relatório foi elaborado no momento em que especialistas refletem sobre como a América Latina poderá manter os níveis de crescimento que possibilitaram a recente diminuição da pobreza e da desigualdade. A inovação, a competitividade, as reformas governamentais e a educação são citadas em geral como os mecanismos econômicos necessários para expandir a prosperidade. No entanto, no exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizado em 2012, as oito nações latino e centro-americanas participantes se situaram na extremidade inferior da escala para os países de renda média, embora o Chile, o Brasil e o Peru tenham apresentado importantes avanços em relação aos anos anteriores.

O relatório foi apresentado nesta quinta em Lima, durante o Fórum Regional de Soluções em Educação, realizado na Universidade Católica, com a participação da Primeira Dama do Peru, Nadine Heredia,

Na sua intervenção, a Primeira Dama apontou que “no caso do Peru, é preciso tornar sustentável o crescimento econômico alcançado, e para isso é fundamental investir em capital humano e desenvolver a capacidade de inovação, a tecnologia, a pesquisa e a produtividade, por meio da educação”.

Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, disse que “é difícil pensar em um elemento mais importante para ampliar as oportunidades para todos os latino-americanos do que a qualidade da educação“, e ressaltou que “também é difícil pensar em protagonistas mais significativos para elevar a qualidade educacional do que os professores da região”.

Para uma região que necessita elevar o nível de aprendizado de seus estudantes, isto significa que muito mais precisa ser feito para recrutar, formar e motivar grandes professores. De acordo com uma pesquisa global, estudantes que têm os melhores docentes avançam 1,5 série ou mais por ano, enquanto os alunos dos piores professores conseguem assimilar meio ano ou menos do currículo escolar. Essa pesquisa mostra também claramente que os benefícios econômicos e sociais do investimento na educação nacional dependem do que os alunos aprendem – e não de quantos anos eles permanecem na escola. Se o México elevasse o desempenho médio de seus estudantes no PISA até o nível alcançado pela Alemanha, o crescimento do seu produto interno bruto (PIB) no longo prazo poderia aumentar dois pontos percentuais.

O relatório faz importantes esclarecimentos sobre quem são os professores latino-americanos hoje:

· Eles têm baixos incentivos salariais. Seu nível de remuneração mensal em 2010 era entre 10% e 50% mais baixo do que outros profissionais “equivalentes”, e essa relação se manteve ao longo dos anos 2000.

· Eles possuem mais educação formal do que outros profissionais e técnicos, porém iniciam seus estudos acadêmicos com um nível de conhecimento inferior ao conjunto total de estudantes do ensino superior; 75% são mulheres.

· Os estudantes que se especializam em educação pertencem a um nível socioeconômico mais baixo e têm maior probabilidade de serem universitários de primeira geração (cujos pais não possuem um diploma de ensino superior).

· A força de trabalho docente da região está envelhecendo. Em alguns países, um professor médio tem mais de 40 anos.

· Embora muitos países da região estejam produzindo uma oferta excedente de novos professores, ainda é difícil encontrar docentes adequados ao ensino médio de matemática e ciências, além de professores bilíngues de alta qualidade (língua espanhola e indígena) nas áreas rurais.

“Quase todos os países da região parecem estar presos a um equilíbrio de baixo nível de padrões inferiores de entrada no ensino, salários relativamente baixos e indiferenciados, ensino deficiente na sala de aula e parcos resultados educacionais”, explica Barbara Bruns, autora do relatório. “A mudança para um equilíbrio de alto nível será difícil, mas constitui um esforço que a região não pode se permitir adiar.”

Em um momento de recursos públicos mais escassos, o relatório oferece uma contribuição significativa para ajudar a identificar prioridades. Entre as suas conclusões que mais se destacam, constatou-se que os professores nos países que fazem os investimentos mais elevados em iniciativas do tipo Um laptop por aluno, gastam a menor parcela do tempo total de aula usando as tecnologias de informação e comunicação.

Os desafios futuros para a região são diversificados. Ao longo da próxima década, o declínio da população com idade escolar na metade dos países da região, principalmente no Cone Sul, poderá facilitar de modo substancial a melhoria da qualidade dos professores. Na outra metade da região, especialmente na América Central, a necessidade de mais docentes tornará mais difícil o alcance desse objetivo.

No entanto, a boa notícia do relatório é que a maioria dos países da América Latina e do Caribe está concentrando o seu interesse na qualidade dos professores. Ele resume as evidências de pesquisas globais e das mais recentes experiências da ALC com programas inovadores e grandes reformas em três áreas prioritárias:

· Políticas para recrutar melhores professores.

· Programas para formar ou desenvolver as habilidades dos professores que já estão em atividade.

· Maiores incentivos para motivar um desempenho de alto nível, que irão tornar a profissão mais atraente e seletiva ao longo do tempo.

Ao analisar o planejamento e a implementação de grandes reformas na política de formação de docentes no Chile, no Peru, no Equador e no México, o relatório mostra o papel decisivo dos sindicatos de professores, a importância de encontrar soluções de consenso e como se poderá obter um amplo apoio da sociedade civil, que serviu de base para reformas exitosas e sustentáveis.

Fonte: (clique aqui)

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Roseli Brito: Pedagoga, Psicopedagoga, Neuroeducadora, Educadora Financeira

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